sábado, março 04, 2006

Sobre a Tolerância

Muitos questionar-se-ão sobre a oportunidade e utilidade de voltarmos a abordar a crise dos cartoons. Ainda haverá algo de novo a dizer? Em boa verdade muito foi dito. E, no entanto, uma vez mais, na costumeira voragem mediática, poucas foram as vezes em que a questão mais importante foi abordada.
Todas as sociedades, as mais e as menos complexas, em dados momentos da sua História são confrontadas com a necessidade de responder ao problema dos limites da Tolerância. Ou, por outras palavras, o que podemos tolerar nos intolerantes, evitando que nos convertamos naquilo que não queremos, nem seremos suplantados por aqueles que não podemos permitir que vençam?
A História, uma ciência auxiliar de tantas outras, também devia ser tida como instrumento essencial para os decisores. Porque, relatando as opções em tempos passados e suas consequências, nos ensina e proporciona – uma vez mais – a possibilidade de não errarmos. Porém, a natureza humana – aliada à ilusão proporcionada por uma concepção linear e "progressista" do Tempo – impelem-nos a sempre nos considerarmos mais sábios e mais capazes do que o foram os nossos maiores no Passado. Por isso, a História e os seus ensinamentos são sempre – e demasiadas vezes – esquecidos. E, para nosso mal, o seu esquecimento ou desprezo são, normalmente, produtores de graves enganos!Enganam-se aqueles que, não informando – com clareza e decisão – sobre aquilo que consideramos vital e estruturante no nosso modo de vida, se entretêm, por medo, a camuflar o fundamental sob o tapete onde escondem as coisas que julgam incómodas para os outros. Pois a racionalidade humana não nos permite ver para além do evidente e tendemos a só respeitar aquilo que o outro nos faz sentir como fundamental. E na directa proporção da importância (na medida da decisão contida na advertência) que demonstramos na defesa do essencial.
Enganam-se aqueles que julgam que a contemporização e obnubilação do fundamental no nosso modo de vida pode aplacar a raiva dos islâmicos incitados por aqueles que, entre eles, adoptam o radicalismo verbal e físico como modo de fazer política e viver a sua religião. A Liberdade de Expressão é um princípio estruturante no Ocidente e que, aplicada noutras terás, poderia ser o canto de cisne para as propostas dos radicais. É verdade que há o risco do abuso... contudo, se a defendermos, será ela quem os denunciará e derrotará. Porque a Verdade é sempre mais forte que a mentira. E não se deve esquecer ou ignorar que a inteligência e bom senso dos Povos são forças em que vale a pena confiar.
Enganam-se aqueles que julgam que os radicais islâmicos não compreenderiam e respeitariam uma defesa resoluta e firme da Tolerância. Pois, aquilo que mais os ofende – e lhes faz acreditar na decadência do Ocidente – são as propostas dos "progressismos" moralmente fracturantes, apresentadas por aqueles que depois apelam à tolerância para os desmandos e abusos dos radicais islâmicos.
Enganam-se aqueles que, apelando à contenção dos cartoonistas dinamarqueses, esqueceram que só o podem fazer porque beneficiam do ambiente de Liberdade e Tolerância próprio da Democracia que construímos no Ocidente. Não nego nem duvido da bondade de propósitos, mas a tolerância deve terminar quando o intolerante – que tem o direito de o ser – passa da argumentação (quente e apaixonada, por certo, mas) racional e passa a aceitar e adoptar a violência como instrumento válido. Porque a Tolerância permite que se tente provar a utilidade, a bondade, a grandeza daquilo em que acreditamos, mas deve cessar quando recuso ouvir outro e se decide tentar destruí-lo.
Enganam-se aqueles para quem a Paz é obtida pelo calar dos canhões, pois também a derrota ou a capitulação movida a medo produzem o mesmo efeito sonoro. Paz só é verdadeira quando conjugada com Justiça e Verdade, não com desistência ou covardia. Que sinal damos aos islâmicos que nos seus países corajosamente defendem a causa da Tolerância, da Liberdade e da Democracia? Que não vale a pena continuar pois a Democracia amolece, a Liberdade tolda o discernimento e a Tolerância é palavra empolgante para ser proferida em comícios políticos.
Não esqueçamos que o Ocidente foi o berço da Democracia e da Liberdade. Nem enjeitemos aqueles muitos que, na sua defesa contra os totalitarismos nazi e comunista, se sacrificaram e morreram. É por isso que todos deveriam saber que a intolerância se torna sã intransigência quando usada na defesa da dignidade e na sobrevivência dos princípios fundadores e sustentadores da Democracia e da Liberdade. Todavia, a tolerância torna-se condescendência pusilânime quando consequência da renúncia a lutar pelo certo apenas como modo (iludido) de tentar aplacar a ira do violento, do intolerante, do injusto...
Foi evidente que, salvo honrosas (e escassas!) excepções, as reacções dos governantes do presente (e que já foram apelidados "os Neville Chamberlain de nous jours") mais não conseguiram que, nos planos moral e temporal, promover o encurtamento da distância que vai entre um Chamberlain e um Pétain...

1 Comments:

Blogger AV said...

Quinto ou sexto poiso para este texto.
Caramba já parece aqueles opinadores comunistas locais a quem a Coordenadora manda as prosas para todos os lados amigos.
E há logo um que é da BB.
Será que é da terra ?
:D

Mas só para animar as coisa ainda hoje vou linkar este blog de forma permanente para cá vir mais facilmente espreitar.

AV1

2:03 da manhã

 

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