terça-feira, maio 24, 2005

Ele há filhos e enteados...

Vive-se mal em Portugal! Cheira a impunidade, há um nauseabundo odor de compadrio, tresanda a duplicidade de critérios, fede a injustiça.

Por estes dias, descobrimos que, afinal, morreu a vida para além do deficit. Quer isto dizer que Sua. Exa., o Senhor Presidente da República andou distraído? Já lhe incomoda o estado do Orçamento? Afinal V. Exa. ainda se lembra que quem governa precisa de solidariedade institucional? Mas importava que se recordasse que, a bem do País, esta é uma exigência no relacionamento entre titulares de cargos de órgãos de soberania e não é devida apenas entre camaradas pink. Será que só eu vejo a duplicidade de comportamento do Dr. Jorge Sampaio? O que defendem outros, como o Dr. Soares, não me incomoda: fazem o que sempre fizeram e não têm responsabilidades formais que lhes exijam isenção e solidariedade institucional. Agora não vos incomoda que o Dr. Sampaio, no exercício das suas competências, haja calado (e por isso, foi cúmplice) com o “pântano guterrista”? Onde estava Jorge Sampaio quando o PS desbaratava o que recebeu: um País com contas equilibradas, num momento de crescimento económico mundial e onde entraram € 7.000.000.000.000 de fundos comunitários?

Como foi possível que o PS haja entregue um País em tal estado que a primeira tarefa da anterior maioria foi, em 2002, tratar das contas de 2001. Repito de 2001. Um ano da exclusiva responsabilidade do PS! E o verdadeiro problema não era tanto as contas, mas as circunstâncias que causaram o desequilíbrio orçamental: o assumir de compromissos sem razão e sem sentido que, inelasticamente, onerarão o Erário Público por um longo período futuro. Onde estava o Dr. Jorge Sampaio que se esqueceu de avisar os seus camaradas dos perigos que as suas trapalhadas causariam no País? Andava distraído ou sem inspiração para os seus sibilinos e confusos discursos, do tipo “viró-disco-e-toca-o-mesmo”!

Quando no período da governação da anterior maioria se disse que a resolução do problema do deficit passava pela alteração da estrutura da despesa, o Dr. Jorge Sampaio juntou a sua voz ao coro de “pitonisas das receitas”, que bradavam que o problema era a evasão fiscal. Agora empresta o fato presidencial e junta-se à mise-en-cène que, uma vez mais, nos quer vender que o problema do deficit só é resolúvel pelo lado das receitas (leia-se, aumento dos impostos). Falso! Falso e perigoso... Mas, como noutros momentos, funciona a confraria dos media complacentes: volta a sentir-se uma conveniente ormetá!

O mesmo silêncio cúmplice e não inocente que já se sentia durante a anterior maioria e que permitiu qua só a oposição tivesse tempo de antena. Que possibilitou (e estimulou) a tentativa de linchamento público de um político, apenas porque era testemunha de um processo. Mas que hoje, como ontem, permite que todos se calem perante as suspeitas que decorrem dos casos Freeport e Nova Setúbal! Na altura, dizia-se que alguém havia sido escolhido para ministro da Justiça para interferir num processo que já estava nos tribunais. Mas agora ninguém fala das actuais escolhas e que, em ambos, as questões ainda estão em fase em que as interferências se podem fazer sentir. Espantoso como se fazem manchetes sobre uns e não sobre outros: até a piedade para com sobreiros é selectiva!

Mas também há um cúmplice silêncio quando a questão é, voltemos ao tema, o deficit! Quando é que dizem que o tal número, os -6,83% é uma estimativa sobre os resultados esperados do exercício de 2005. Repito: 2005, período da total responsabilidade do PS: até Março, com a tutela do PR; desde então numa irmandade PR/Governo, numa “união tão unida” que até as pedras se comovem! Dessa responsabilidade o PS não se escapa. Nem o PR. Ou estarão esquecidos que, antes da dissolução, os indicadores económicos (e os comentadores eram unânimes) indicavam um ténue mas evidente início da retoma? E que a pessoal e constitucionalmente infundada decisão de dissolução teve consequências económicas graves ao nível das expectativas e da confiança dos agentes económicos? E julgam que nos esquecemos que o actual PM, enquanto líder da oposição, disse que não alteraria nada no actual Orçamento porque com ele concordava? O mesmo Orçamento que agora tem um desvio de execução estimado nos tais -6,83 %. Porém, para que um tal deficit não se verifique, o PS só tem que apresentar e aprovar um Orçamento rectificativo (lembram-se quando eles apresentavam 4 rectificativos num ano só? Voltámos ao mesmo...). Problema é que só há uma de duas soluções: ou aumentam as receitas (subida dos impostos, portagens nas SCUTS, etc) ou contraem a despesa (e acabam-se as inaugurações). Em ambos os casos, em vésperas das autárquicas, dificultariam a vida aos seus candidatos!

É ensurdecedor este silêncio. Do Governo, do PR e dos media. E depois queixam-se de perdas de leitores. Além disso que diferença há entre a Quinta das Celebridades e o actual clima dos media? Em ambos dá-se demasiada importância a “vedetas” em final de carreira, fazendo-lhes crer que têm algo de interessante e importante para dizer ao País. Assim, o que é que querem? Os (e)leitores não são estúpidos e entre a ormetá cor-de-rosa e a exuberância do José Castelo Branco, escolhem este. Pode dizer-se que ele é exagerado, mas pelo menos é mais honesto: não esconde o que é, nem que só está p’ró espectáculo!

João Titta Maurício

quinta-feira, maio 05, 2005

Novos políticos, novas oportunidades!

O novo ciclo político nacional iniciado com a substituição de Ferro Rodrigues e a eleição de José Sócrates para Secretário-Geral do PS, continuado com as novas lideranças do PCP, do PSD e do CDS (curiosamente só no BE continuam as caras de sempre – que já cá andam desde 1991, pelo menos…), está quase concluído. Falta escolher um novo Presidente da República. Mas a escolha dos portugueses parece já ter sido feita, e só falta esperar que esse dia chegue. E que até lá, o actual PR possa acabar o seu mandato com dignidade. Coisa que duvido… Começa a não haver paciência para as “sampaiadas”.

A conivência com a incompetência “guterrista” (tudo aceitou, tudo calou, a tudo emprestou uma complacência de camarada colaboracionista), que tentou prolongar (lembram-se que, mesmo depois de Guterres ter avisado que saía por causa do pântano, o actual PR ainda tentou manter o PS e aceitar uma nova liderança?)...

Depois, perante o desastre que os membros do Governo PSD/CDS encontraram e quando todos os políticos responsáveis (e os dirigentes europeus à cabeça) apontavam como incontornável uma contracção da despesa pública para se conseguir uma indispensável redução do deficit público, que fez Jorge Sampaio? Numa primeira fase andou caladinho (possivelmente a tentar perceber se teria ou não “boa imprensa”), mas logo que pode, voilá, proferiu, urbi et orbi, que há mais vida para além do deficit! Afirmação temerária, mas ninguém teve a coragem de lhe recordar que tal seria possível quando se remendasse o buraco que ele e os seus camaradas socialistas haviam deixado!

Euro2004. A actividade económica acelera, a euforia e a confiança dos portugueses está em alta: todos os indicadores económicos apontam para o início da recuperação. Pela primeira vez desde 2002, os níveis de confiança de consumidores e investidores são positivos. Já se vislumbrava a esperança ao fundo do túnel. Entretanto, o então Primeiro-Ministro, é convidado para Bruxelas. Sampaio aceita e incentiva… depois encena uma paródia de exercício dos poderes presidenciais, consulta tudo e toda a gente (alguns em dobro). De Belém são constantes as cirúrgicas fugas de informação (que dão uma ilusão da decisão não tomada e alimentam as actividades de desgaste por parte de sectores da oposição). O discurso de anúncio de nomeação de Pedro Santana Lopes surge e Jorge Sampaio faz um flick-flack à retaguarda” e, pasme-se: informa que a crise existe, que contenção orçamental é a prioridade e que não aceitará que não se mantenha a forte contenção na despesa pública… de repente, Sampaio matou a vida que existia para além do deficit! A esquerda florida, impaciente, faz um ataque formidável ao PR, tudo é dito, tudo é insinuado, há gritos, há choros, há abandonos e amizades que terminam… Sampaio passa a “mal-amado” da esquerda herdeira das loucuras psicadélicas de 68. Mas há impaciências que se pagam caro!

A confiança dos consumidores esfuma-se com esta errática posição presidencial, mas Sampaio não se deixa impressionar e segue o seu caminho. Acolitado pelos media que se desencantaram com Santana, o PR vai deixando uns recadinhos aqui, uns sorrisos e alternados por uns cenhos façanhudos acolá, uns silêncios assessorados por convenientes fugas de informação, o caminho vai sendo aplanado. A histeria chega a ser tal que uma incauta afirmação de um ministro é aproveitada por um adversário interno de Santana no PSD para montar um show-off de 5ª categoria, mas a que todos dão um incompreensível eco: aqui d’el-Rei, que o Governo quer matar a Liberdade de imprensa! Porém nem um órgão de comunicação, umzinho que seja, defende um Governo que é acusado de controlar a imprensa (lembram-se? Ele era o Luís Delgado na Lusomundo, a Central de Informação, etc)! Imaginem se não controlasse nada?!? E que fez Sampaio? Recebeu o comentador mas recusou ouvir o Presidente do órgão de comunicação de que o outro se havia demitido. Fazem-se inquéritos e concluem que houve um almoço (de cunhados!) onde um (o patrão) diz (ao comentador) que ele deveria pensar em moderar as suas críticas… tal como outros sugerem aos seus jornalistas e comentadores que sejam mais agressivos com determinado sujeito afim de aumentarem as tiragens! Porém, em momento algum do inquérito ficou provada a existência de qualquer interferência do governo como razão de ser do tal almocinho de cunhados… Mas deixou-se ficar no ar a confusão… a quem convinha?

Quando “estava no ponto”, Sampaio foi vasculhar ao fundo de numa recôndita gaveta do palácio, reencontrando o seu velhinho cartão rosa e toma a peregrina decisão de, de facto, mostrar o quanto considerava a opinião daquele rol de gente que havia consultado para decidir a nomeação de Santana. Depois de uma (confessada) noite de insónia, mal dormido, recebe o PM e informa-o de que afinal não dará posse aos novos membros do governo pois (incumprindo o preceito constitucional que o obriga a ouvir o Conselho de Estado) decidiu dissolver a AR… mas (outra inovação) sem exonerar o Governo! Guardava-a para mais tarde, presume-se, dar uma nova “sampaiada”!: com um qualquer pretexto, demita o Governo em vésperas das eleições – para assim mais prejudicar a maioria!

Concretizado o plano, eis que ressurge o PS, agora com maioria absoluta. De repente os problemas acabaram! Até as listas de espera terminaram, a economia dá sinais de recuperação (a inflação baixou, a produtividade dos portugueses subiu) tudo graças a uma nova versão do “milagre… dos rosas”! Até a convocação do referendo ao Aborto é paternalmente adiada… aguardando momento mais conveniente para as pretensões dos abortistas. Só espero que não tenha sido assim para dar nova oportunidade a um candidato presidencial da área socialista… não me admiraria que este fosse um tema de campanha lançado por um candidato da esquerda e, com o costumeiro e conveniente eco da imprensa favorável, o candidato não socialista venha a ser constantemente assaltado com a pergunta: se for eleito convoca o referendo? É que se for assim, Jorge Sampaio ficará na história como um manipulador e exemplo de como não deve ser exercido um mandato do 1º magistrado da Nação num sistema semi-presidencial…

Venham as eleições… e quanto mais cedo melhor: será que Sampaio, para variar, não quererá surpreender-nos e abreviar a espera… demitindo-se? Ao menos, no fim, acabava com alguma dignidade!

João Titta Maurício